Caçu - receberá o I Encontro Nacional dos Poetas del Mundo em Goiás.

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Localização do Município de Caçu em Goiás

terça-feira, 4 de maio de 2010

Cassu e Caçu

Com “ss” ou “ç”

A história, o mito e a lenda
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José Faria Nunes




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Introdução

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A polêmica sobre a grafia do vocábulo Caçu (com “ç”) e Cassu (com “ss”) continua a ganhar espaços na mídia impressa, falada, televisada e na internet. Não raras vezes são veiculadas afirmações e informações que nada acrescentam, pois, ao menos parcialmente, de forma deliberada ou não, confusas e/ou equivocadas.

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O presente trabalho tem o propósito de contribuir para levar o leitor ao mais próximo possível da realidade dos fatos e acrescentar novas informações eventualmente alheias ao seu conhecimento, em ambos os casos com a devida fundamentação teórica.

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A opinião do autor, quando evidenciada, de forma clara, deixa o leitor à vontade com suas convicções pessoais.

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O trabalho elenca conteúdos controversos, a exemplo das hipóteses sobre a origem do topônimo, embasadas nas teses de corruptela do alcaçuz ou do tupi, assim como da origem latina. Também questões sobre aspectos da legislação pertinente foram levantados, com dúvidas até mesmo quanto à validade ou (im)pertinência ao caso, de determinados dispositivos legais.

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Qual é a verdade? Após essa leitura, se feita com a atenção que o caso requer, ninguém permanecerá alheio ou indiferente à mesma.

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Capítulo I

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Bandeira do resgate


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O LEVANTAR DA LEBRE


A lebre foi levantada pelo biólogo Élvis Nascimento ao contrapor-se a uma solenidade quando se plantava mudas da planta “alcaçuz” em frente ao Centro Cultural da cidade. Alcaçuz, até então, era tido como planta símbolo do município e da cidade. Teria dado origem ao topônimo Cassu, mais tarde de uso alterado para Caçu.

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Elvis foi o primeiro a levantar a voz contra o que, mais tarde, se consubstanciou como “lenda da motivação do alcaçuz”. No acalorado da discussão, de um lado o biólogo Élvis, e do outro, este escriba e Milton Ferreira Nunes. O biólogo desafiou que iria provar o equívoco, sendo também desafiado a provar o então considerado “um absurdo”.

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Elvis colheu amostras da planta e as encaminhou ao Instituto de Biologia da UFU. Enquanto isso concluiu-se o plantio das mudas. As mudas, entretanto, tiveram vida curta no local. Foram arrancadas, fato atribuído a eventual ato de vandalismo ou distração de alguém.

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No dicionário Aurélio encontra-se duas descrições de alcaçuz: 1.Arbusto da família das leguminosas, (Glycyrrhia glabra), cuja raíz, doce, é medicinal. 2. Subarbusto do cerrado, da família das leguminosas (Periandra mediterrânea), cuja raiz, adocicada, o povo considera medicinal. No mesmo dicionário encontra-se também o verbete alcaçuz-da-terra, assim descrito: Arbusto da família das leguminosas, subfamília papilionácea (periandra dulcis); raíz doce.

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Como se pode notar, definitivamente a planta não se tratava do gênero Periandra dulcis (alcaçuz) nem mesmo de sua família (Myrcia ou Eugenia), mas sim de outra família (Myrtacea). Quanto ao gênero não se soube, ao certo, se era Myrcia ou Eugenia, portanto outro que não o do alcaçuz (Periandra dulcis). E nem poderia ter sido diferente, visto que até a família era outra (Myrtacea), portanto as amostras nem parentes eram do verdadeiro alcaçuz.

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A dúvida sobre o gênero das amostras deveu-se ao fato de terem sido apresentadas ao Instituto de Biologia da UFU exemplares diferentes da planta, embora da mesma família (Myrtacea).

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Como duasamostras foram apresentadas, comprova-se que nem os cassuenses, à época da coleta, distinguiram com precisão as diferenças entre uma e outra planta, embora a operação de coleta das mudas no cerrado fosse feita em comissão contando, inclusive, com o então prefeito Rui Martins.

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Reconhecida a inexistência da planta alcaçuz na região, caiu sobre este escriba o desencanto, ao ficar sem o fio da meada. O chão fugiu-me de sob os pés. Talvez tivesse ficado como no dito popular: qual cachorro de mudança caído em terra estranha, perdido, sem saber onde ir, sem eira e nem beira.

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CONTROVÉRSIA DE FAMÍLIA BOTÂNICA

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Estaria certa Lita Chastan com sua tese de que o nome Caçu tivesse se originado do dialeto tupi (caá+Açu ou cauaçu) mata grande; planta de folhas grandes, da família das Malpiguiáceas. (Goiás – Extremo Sudoeste II: O chapadão do Céu – Na trilha dos caiapós – Goiânia: CERNE, 1998, página 36)

Nota-se também divergência entre as características da planta alcaçuz segundo o documento da UFU e a citação de Lita Chastan quanto à família da planta mencionada (cauaçu).

No documento da UFU, que caracteriza o alcaçuz, bem como também no dicionário Aurélio, alcaçuz é da família das leguminosas (Leguminosae).

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Lita diz que a planta descrita como cauaçu (dialeto tupi) é da família das Malpiguiáceas.

Consequentemente, nem mesmo a planta descrita por Lita poderia ser alcaçuz.

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A essas alturas, pelo menos por parte de algumas pessoas, já havia o convencimento de que o nome da cidade nada tinha a ver com a planta alcaçuz. Mas ainda permanecia a dúvida: teria sido o topônimo originado do tupi, corruptela de caá+açu ou cauaçu, conforme o descrito por Lita Chastan?.

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A polêmica, então já aguçada, longe estava de um consenso. Algumas pessoas persistiam na crença da corruptela de alcaçuz, outros na do tupi caá+açu ou cauaçu, enquanto uma terceira corrente pendia para uma terceira hipótese, ainda vaga mas com fundamento. Considerando-se que tanto na hipótese do alcaçuz quanto do tupi a grafia teria que ser com “ç”, Por que foi grafada, por mais de um século, pelo menos, com “ss”? Não haveria uma terceira hipótese e esta, sim, a verdadeira?

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BUSCA DA VERDADE

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A controvérsia se deu em torno da origem do topônimo e não da grafia, até então aceita como verdadeira a partir da interveniência do IBGE em 1957 e da Assembléia Legislativa de Goiás em 1958.

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Diante do impasse não se teve outra alternativa que não fosse partir para a pesquisa.

A primeira pesquisa foi em documentos do IBGE divulgados pela antiga AME-Agência Municipal de Estatística de Cassu dos tempos do agente Acácio de Paiva Vale. Neste documento encontrou-se as informações já conhecidas e disseminadas, inclusive e principalmente nas escolas.

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Pesquisou-se também um documento da lavra de Ataualpa Alves de Lima que complementa o do IBGE e, ao mesmo tempo, questiona algumas informações daquele órgão federal, sobretudo sobre a constatação da mudança da grafia Cassu para Caçu em 1957 por meio de um memorando sem a devida fundamentação teórica.
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À medida em que novas informações eram descobertas matérias foram publicadas no periódico Jornal da Terra, de Cassu, na busca de conscientização da comunidade sobre as novidades históricas. As publicações começaram a despertar parte da população para a quebra de paradigmas históricos na comunidade.

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Até então uma ou outra pessoa com discutível convicção colocava na berlinda uma ou outra informação, sobretudo quando o assunto fosse a negativa da origem do topônimo partindo do alcaçuz.

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GÊNESE DA CAMPANHA DOS “SS”

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A cada documento novo encontrado e a cada nova descoberta, chamou a atenção o fato de diversos documentos ainda existirem com plena validade grafados com a velha grafia (com “ss”). Com isso começou a ganhar força a idéia de se levantar uma campanha para se promover o resgate da grafia Cassu, conforme a lei de criação do município, a lei nº 772 de 16 de setembro de 1953.

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Um novo passo nesse sentido foi uma visita à Assembléia Legislativa do Estado de Goiás onde e quando, após consulta a alguns assessores jurídicos daquela casa de leis, não se encontrou lei que revogasse a lei 772/53. Estabeleceu-se a dúvida: a grafia Cassu está ou não legalmente em vigor, apesar do IBGE ter induzido ao costume do uso da grafia com “ç”?

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A dúvida gerou divergências de opiniões também entre os assessores do legislativo goiano. Uns entendiam que o costume do “ç” teria derrogado a vigência da lei enquanto outros entendiam diferentemente, uma vez que documentos com “ss” permaneciam (e permanecem) com intacta validade.

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A PRIMEIRA DÚVIDA DA LEGISLAÇÃO

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Na visita à Assembléia um assessor encontrou a lei (de nº 2480/59) que, em seu anexo 1, aparece a grafia Caçu (com “ç”), mas nenhuma revogação de disposições em contrário à lei 772 foi encontrada.

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Por faltarem à lei 2480 elementos que assegurassem a revogação do disposto na lei 772/53 quanto à grafia de 1953 (Cassu) o entendimento majoritária foi o de que a lei de criação do município permanecia em vigor em seu inteiro teor, visto que a grafia Caçu no anexo 1 da nova lei não teria força legal suficiente para gerar efeitos contra a lei de criação do município (a de nº 772/53). Tais entendimentos foram expressos verbalmente, tanto os favoráveis quanto os contrários.

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O jornal da Terra continuou a publicar matérias, agora com a convicção de que seria mais conveniente o resgate do uso da antiga grafia, Cassu, até porque, com a chegada da internet e dos sistemas eletrônicos de emissão de documentos, o topônimo Caçu praticamente perdera a cedilha, gerando uma cacofonia que muitos constrangimentos tem provocado.

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A cacofonia contribuiu para aumentar os adeptos do retorno ao uso da grafia Cassu, tendo por base argumentos como o resgate da memória histórica e o de se evitar os constantes constrangimentos por força da ausência do “ç” em documentos gerados por sistemas eletrônicos, como contas de água, de luz, de telefone, de internet, cartões do SUS e até títulos de eleitor, CNH e cédulas de identidade, com os respectivos RGs.

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À medida em que se aumentava o número de adeptos dos “ss”, surgiu e aumentou também os seus opositores, preferindo a grafia costumeira a partir do final dos anos 50 do século XX.

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ADVENTO DO IHGES

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Premidos pela oposição que ganhava força, os adeptos dos “ss” entenderam por bem fundar uma entidade que pudesse dar legitimidade à campanha do resgate. Isto porque, entre os defensores do “ç”, já em 2007, estava arregimentada a Câmara Municipal com todos os seus vereadores e alguns secretários da municipalidade, embora o prefeito tivesse declarado apoio aos “ss”.

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O caminho mais viável foi a criação de uma entidade que ganhasse legitimidade para defender a questão. Foi então que, na noite de 07 de dezembro de 2008, em uma reunião no Jornal da Terra fundou-se o IHGES - Instituto Histórico e Geográfico do Extremo Sudoeste de Goiás. O fato deu caráter de oficialidade à campanha de resgate da memória histórica com respeito à legalidade e para se evitar os constantes constrangimentos ocasionados pela grafia do topônimo com o ”c sem cedilha”.

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